Por todo o globo, o setor do vidro passa por um momento de grandes mudanças. O lançamento de tecnologias e produtos cada vez mais avançados e o surgimento de novos operadores em todos os segmentos sustentam o aquecimento desse mercado mesmo em períodos de incerteza para a economia. No Brasil, esse cenário é evidenciado pela chegada de novos players, que prometem em poucos anos transformar radicalmente a dinâmica do mercado vidreiro atual.
Essa é a avaliação do executivo Davide Cappellino. Apoiado nas mais otimistas perspectivas, ele assumiu o desafio de comandar a implantação no Brasil de um complexo industrial do grupo japonês AGC, líder mundial na fabricação de vidros planos, automotivos e arquitetônicos. A primeira unidade produtiva da AGC Brasil será instalada em Guaratinguetá, no interior de São Paulo, e prevê, quando em plena operação, uma produção de 220 mil toneladas de vidro por ano só para o setor da construção. “O mercado brasileiro tem importado grandes quantidades de vidro. Com a chegada da AGC e a expansão de outros fabricantes, as indústrias locais vão naturalmente atender essa demanda”, prevê.
Com mais de 15 anos de experiência no segmento do vidro, Cappellino passou pelos mercados vidreiros italiano e belga antes de chegar ao Brasil. Nesta entrevista a Vidro Impresso, ele revela algumas das estratégias que pretende adotar na presidência da AGC Vidros no Brasil, mercado em que, segundo avalia, o consumo de vidro per capita ainda é muito baixo e que, por isso, apresenta grande potencial de crescimento.
Quando a planta de Guaratinguetá entrará em funcionamento e voltada para qual setor ?
Davide Cappellino – A planta de Guaratinguetá vai começar a produção em 2013, para a construção civil e o setor automotivo. Vamos produzir vidro float, incolor e colorido, espelhos e todos os tipos de vidro para a indústria automobilística. Um pouco mais adiante vamos produzir também vidros revestidos para controle solar e energético.
A AGC Brasil já tem clientes oriundos de parcerias em outros países onde opera ou terá de disputar o mercado a partir da estaca zero?
No setor automotivo os clientes no Brasil são os mesmos parceiros que já temos em quase todos os países do mundo. Podemos contar com essas parcerias em contratos globais, pois são relacionamentos muito sólidos. No setor da construção civil, a AGC já importou para o Brasil produtos de vidro com apoio de parceiros comerciais. Portanto, os produtos da AGC já estão presentes no mercado brasileiro, onde os clientes já conhecem sua qualidade. A AGC montou um Centro de Distribuição em São Paulo e estamos importando produtos da Europa para atender os clientes daqui enquanto esperamos a nossa linha de produção entrar em funcionamento.
Em confronto com a concorrência, que diferenciais a AGC vai apresentar? Quais serão as estratégias da AGC para ganhar mercado em um setor atualmente controlado por alguns poucos players? Quais serão as ações de aproximação com beneficiadores e temperadores de todo o Brasil?
A AGC vai trazer para cá a tecnologia, os produtos, a qualidade e o atendimento que a fizeram líder mundial no setor do vidro. Vamos apoiar os clientes no Brasil com produtos da maior qualidade a um preço justo. A AGC entende que o consumo de vidro per capita no Brasil é muito baixo e há um enorme potencial de crescimento, não apenas para o vidro float básico, mas, principalmente, para vidros revestidos e funcionais e vidros especiais para aplicação em áreas internas, design de interiores e fachadas.
Prevê demanda maior no setor automotivo ou na construção civil?
A AGC terá a primeira planta integrada do Brasil, capaz de atender o setor automotivo e o da construção civil. Esses dois setores crescem muito no País e todos os funcionários da AGC farão o máximo para atender bem a ambos.
Em termos tecnológicos, que contribuições a AGC traz para a indústria vidreira?
A AGC vai implantar no Brasil as mais avançadas tecnologias vidreiras do mundo, construindo em Guaratinguetá uma das plantas mais avançadas do grupo, permitindo garantir uma qualidade superior e um impacto ambiental muito limitado, graças ao mais avançado sistema de controle da América do Sul nesse aspecto.
A AGC demonstra preocupação ambiental já no projeto da fábrica. Também está previsto fornecimento de vidros voltados para essa crescente demanda?
AGC acredita firmemente que as soluções em vidro podem contribuir para a proteção do meio ambiente e a qualidade de vida das pessoas. Aqui no Brasil vamos produzir vidros revestidos avançados, capazes de reduzir substancialmente a necessidade de ar condicionado e controle da temperatura nos edifícios. Acreditamos que promover o uso de tais produtos, junto com nossos clientes, seja uma das principais contribuições que podemos dar à proteção do meio ambiente.
Prevê dificuldades para o recrutamento de mão de obra especializada? Quantos empregos a AGC vai oferecer?
Na primeira fase de nosso investimento vamos oferecer 500 empregos diretos e alguns milhares de empregos indiretos: nossos fornecedores, parceiros, transportadores. A indústria de vidro é caracterizada por atividades de alta tecnologia, com máquinas automáticas e sistemas avançados de controle. Vamos precisar de perfis profissionais específicos. Estamos trabalhando com as instituições públicas para montar programas de treinamento que permitam desenvolver nossos futuros funcionários.
Como vê a operação brasileira no contexto da operação mundial da AGC?
A operação brasileira da AGC vai ser o primeiro investimento do grupo na América do Sul. Portanto, nossas atividades aqui terão papel estratégico na presença mundial da empresa. O Brasil já não é “o país do futuro”, mas, sim, o país do momento. Não é à toa que recentemente se tornou a sexta maior economia mundial. A AGC tem orgulho em trazer para o Brasil todo o seu know-how e o que há de mais avançado em termos de tecnologia, para oferecer produtos diferenciados e soluções inovadoras em vidro.
Com base em sua vivência no setor, que entraves antevê pela frente?
Toda a cadeia de valor no setor do vidro no Brasil está sob pressão por causa da concorrência internacional e das importações dos países de baixo custo. O mercado brasileiro tem importado grandes quantidades de vidro. Com a chegada da AGC e a expansão de outros fabricantes, as indústrias locais vão poder atender naturalmente essa demanda. Os operadores no setor do vidro no Brasil devem defender seu mercado desenvolvendo produtos e soluções avançadas para favorecer o consumidor final. A AGC quer contribuir de forma decisiva nesse processo.