Ao mesmo tempo mestre vidreiro e escultor ultrarrealista, Paul Stankard tornou-se internacionalmente conhecido pela forma inventiva com que combinou essas duas expressões artísticas para compor releituras dos tradicionais pesos de papel de vidro. Pioneiro no famoso movimento Studio Glass, que, iniciado nos Estados Unidos na década 60, foi o catalisador de ferramentas e processos para o uso do vidro como meio de produção artística, Stankard se especializou na técnica de enclausurar pequenas esculturas em esferas de vidro maciço, dando origem a um acervo de peças que exploram e interpretam cores, texturas e a delicadeza da natureza, misturando misticismo e realismo botânico.
Exímio explorador da diversidade típica do reino vegetal, Stankard exibe uma produção que se destaca pela riqueza de detalhes com que interpreta e representa elementos da natureza como plantas, flores e insetos, miniaturizados e preservados dentro de globos e cubos de vidro. Amparado pelo uso de sofisticados materiais e ferramentas técnicas, além, é claro, de uma habilidade meticulosa, o artista dá vida a uma ampla variedade de elementos figurativos e poéticos, demonstrando acuidade, poder de observação e senso estético. “O processo aplicado para criar minha arte é o chamado lamp working, ou flame working”, revela o mestre vidreiro. “Uso um queimador a oxigênio para fundir os bastões de vidro borossilicato pré-fabricados e o vidro transparente, e assim manipular o material em meio ao qual minhas esculturas em miniatura são envoltas.”
Uma observação aproximada de suas obras frequentemente revela temas místicos e metafóricos aninhados entre os elementos naturais. Virando as esferas e observando-as sob outros ângulos é possível encontrar, entremeados com as raízes das plantas, elementos como máscaras, pequenas palavras e até “raízes de pessoas”, por meio dos quais o artista intenta representar o espírito da terra. “Inventei um vocabulário artístico para interpretar os mistérios da natureza encapsulados no vidro cristalino, que é capaz de produzir um efeito visual único aos elementos”, comenta Stankard. “O principal desafio do meu trabalho é trazer à tona essa delicadeza orgânica do vidro.”
Com sua atenção voltada para as particularidades da cada planta, flor, inseto ou fruta, os objetos no interior das peças moldadas pela técnica do glassblowing (vidro soprado) demonstram forte apelo ilusionista. “A proposta é fazer com que o observador vá além da magia de saber se aquilo é real ou é de vidro. No fundo, tudo é sobre respeitar os seres vivos.”
Similares aos pesos de papel, porém de maior escala, as peças da série Orbs (esferas) são redondas, e oferecem ampliação uniforme dos elementos envoltos, sob todos os ângulos. Embora encontre no reino vegetal sua principal inspiração artística, Stankard não se propõe criar representações cientificamente precisas de cada espécie. “Penso no meu trabalho como um referencial”, afirma. “Não são flores literais, embora julgue importante fazer com que pareçam reais”.
Formação vidreira
Stankard acumula mais de 50 anos de experiência com arte e artesanato em vidro, ao longo dos quais se tornou respeitado no mundo inteiro por sua extensa produção artística, exposta em mais de 70 museus espalhados ao redor do globo. Suas peças figuram em galerias, coleções particulares e acervos públicos, como o Museu do Louvre, em Paris, o Victoria and Albert Museum, em Londres, o Smithsonian Institution, em Washington, o Metropolitan Museum of Art e o Corning Museum of Glass, ambos em Nova York.
Habituado a longos passeios na floresta durante toda sua infância, vivida em North Attleboro (Massachusetts), nos Estados Unidos, Stankard nutriu desde cedo um peculiar fascínio pela natureza. Formado pelo Salem Vocational Technical Institute, recebeu um diploma de glassblowing na área científica, que o habilitou a atuar por alguns anos no ramo de produção de provetas e tubos de ensaio. “Fui treinado na técnica do vidro soprado e trabalhei nessa indústria por 10 anos”, conta o artista. “Ao longo desse tempo, me divertia nas horas vagas fazendo uso criativo das técnicas que aprimorava ano a ano. Minha criação foi fortemente influenciada pelos pequenos pesos de papel de vidro produzidos no início do século XX, hoje altamente valorizados entre colecionadores de antiguidades.”
Atualmente, o artista vive em New Jersey, região de rica tradição vidreira. “Para se ter uma ideia, a primeira empresa vidreira de sucesso de todo o hemisfério norte, a Wistaburgh Glass, foi estabelecida aqui, onde atuou de 1738 a 1782”, diz. Em seu atelier, ele chega a produzir uma media de 40 peças por ano. “Dediquei toda minha vida à arte de derreter e manipular o vidro”, diz Stankard. “Por causa da intensidade aplicada na produção das peças, é preciso derreter novamente muitas toneladas de vidro por ano. É um árduo trabalho, mas absolutamente compensador”, conclui o artista.