Trazer jardins em miniatura para dentro de casa, em seus próprios espaços e resguardados pelo vidro. Essa é a proposta central dos terrários, arte de cultivar plantas de variadas espécies em pequenos recipientes, preferencialmente de vidro, a partir de uma reprodução o mais fiel possível das condições ambientais e climáticas de seu habitat natural. “O que acontece dentro de um terrário fechado é um ciclo de renovação de ar, evaporação e rega natural. Assim, é possível criar um ecossistema autossuficiente que reproduz condições idênticas às da natureza”, explica a designer Laura Sugimoto, do Wabi-Sabi Ateliê, estúdio que se dedica, entre outras artes, à criação de terrários e vidros de formas geométricas únicas.
Segundo explica Laura, que encontra na criação desses minijardins envidraçados uma de suas manifestações artísticas preferidas, os terrários como ferramenta de estudo da botânica surgiram no século XIX, como um tipo de recipiente fechado para proteção de plantas durante longas viagens e frios extremos. “O modelo antigo, chamado Wardian, foi o precursor do terrário moderno, hoje usado basicamente como objeto de decoração”, conta a artista.
Com todas as condições favoráveis reproduzidas para cada espécie, o terrário transforma-se numa espécie de fotografia tridimensional, um pixel da natureza apreendido no vidro. No ambiente fechado, as plantas podem crescer com cuidados mínimos e com a mesma beleza e exuberância do ambiente natural. “A partir da escolha do tipo de recipiente, é possível decidir que tipo de habitat criar”, aponta Laura. “Para um ambiente úmido, o ideal são plantas tropicais, como samambaias, orquídeas, musgos e líquens. No caso dos meios mais áridos, devemos dar preferência aos cactos e suculentas.”
A montagem de um terrário baseia-se em um sistema de camadas de pedras e substrato específicos, que garantam as condições adequadas ao cultivo da planta. Responsável pela drenagem adequada da água, a primeira camada deve ser de seixo ou pedrisco. A segunda é feita com carvão, para filtrar o ar e evitar odores, e, por ultimo, vem a terra. “O mais importante é garantir a drenagem da água”, diz Laura. Outros cuidados envolvem iluminação e rega adequadas. “Os terrários gostam de ambientes bem iluminados com luz solar indireta e rega moderada. Cada modelo exige cuidados específicos, especialmente em função de serem fechados ou abertos. Mas basicamente são de fácil manutenção, ideais para quem tem pouco tempo, pouco espaço e às vezes pouca habilidade”, salienta. Para quem não tem muita prática, Laura recomenda suculentas e cactos. “São plantas que vivem bem com pouca água e luminosidade. A rega deve ser controlada, nunca em grande quantidade, aproximadamente duas vezes por semana no verão e uma vez no inverno.”
Paisagismo criativo
Embora em tese seu objeto principal sejam as plantas que abrigam, os terrários ganham elementos cada vez inusitados nas mãos criativas de artistas que não veem limites para suas composições. Além das plantas, o “microcenário” dentro do vidro pode ser adornado por areias e pedras coloridas, miniaturas de animais e pessoas etc. Assim, os pequenos jardins reúnem um pouco de tudo: artes plásticas, paisagismo, decoração, jardinagem, ecologia e arte vidreira.
A artista vietnamita Wendi Phan, criadora dos Jardins de Wendiland (Gardens of Wendiland), não poupa a imaginação para recriar, dentro do vidro, belas e divertidas paisagens, “Sempre fui apaixonada por jardinagem e, como meu espaço ao ar livre era limitado, comecei a pensar em alternativas para trazer os jardins para dentro de casa”, lembra a artista. “A primeira ideia que me veio foi trabalhar com cerâmica, mas, logo que comecei a criar esses cenários em miniatura para compor ambientes internos, vi que precisava de um material que não obstruísse a visão. Foi aí que recorri ao vidro e desenvolvi um novo estilo de criação”, diz Wendi. “O vidro complementou perfeitamente minhas obras, por possibilitar expor as minipaisagens sob todos os ângulos possíveis e, por garantir plena entrada de luz, assegurar a sobrevivência desses pequenos mundos naturais. Além disso, é um material com ampla capacidade escultórica. Ele une esses dois aspectos essenciais para minha arte.”
A possibilidade de criar mundos em miniatura enclausurados no vidro foi também a paixão que motivou a designer americana Nicole Furlong, criadora do Green Grass Terrariums, a ingressar no mundo dos terrários. A experiência começou quando, ao buscar formas criativas de decorar seu banheiro, deparou com belos vasos de vidro. “Fiquei me perguntando o que poderia pôr dentro deles”, conta a designer. “E quanto mais dava asas à imaginação, mais elementos apareciam: pequenas pedras, plantas, talvez musgos, miniaturas de casas, animais, carros, pessoas. De repente, tudo se tornou possível.” E foi assim que ela virou especialista na criação desses minúsculos universos particulares, cada um minuciosamente composto por características únicas.
O designer Samuel Wilkinson, por sua vez, foi além e, unindo arte e tecnologia, criou o Biome, terrário hi-tech que pode ser controlado por um aplicativo para smartphones e tablets. O projeto incorpora um sistema de iluminação com sensores que reproduzem a luz solar, possibilitando simular vários ambientes, desde um clima tropical até um deserto. O aplicativo permite monitorar clima, nível da água e nutrientes disponíveis.
Independentemente dos elementos que acondicionam, os recipientes dos terrários podem assumir as mais variadas formas. “Arredondados, ovais, facetados, quadrados ou mais orgânicos e disformes, vale tudo”, diz a Laura Sugimoto. Multifacetadas e artesanais, as peças criadas no Wabi-Sabi Ateliê são montadas por meio do encaixe de chapas de vidro com recortes e tamanhos variados, que assumem inusitadas formas geométricas. Todos os modelos são feitos à mão, por artesãos com mais dez anos de experiência com arte vidreira. “Usamos também algumas peças únicas de vidro, garimpadas em antiquários, feiras e lojas diversas. Nosso objetivo é estabelecer uma relação pessoal com o terrário, criar uma conexão direta com a casa e a história de cada um.”
A designer acrescenta que a transparência é o fator que faz do vidro o material ideal para abrigar terrários, pois a entrada de luz garante a fotossíntese das plantas. Em segundo lugar, entra a versatilidade e a beleza do material. “O vidro permite uma ampla variedade de suportes para a planta, dependendo da técnica de produção. E, por ser um material transparente, permite valorizar toda a beleza do ecossistema recriado dentro do recipiente. É possível observar cada camada do solo e como a natureza está agindo ali dentro”, observa a artista.
A ideia de trabalhar com terrários surgiu a partir do conceito que norteia a produção criativa do Wabi-Sabi Ateliê – a filosofia japonesa vinda do Budismo chamada wabi-sabi. Os terrários unem design, apelo estético, trabalho artesanal e contato com a natureza. A natureza tem uma habilidade misteriosa de transmitir tranquilidade e relaxamento, e com eles é possível cultivar plantas com poucos cuidados e pouco espaço. Resumindo, a intenção do ateliê com os terrários é basicamente trazer natureza para dentro de casa.”