Ares renovados

Ares renovados

Capa: Ares renovados

Rembrandt, Michelangelo, Rafael, Botticelli, Manet e Degas são apenas alguns dos nomes que abrilhantam os corredores do Isabella Stewart Gardner Museum, localizado na cidade de Boston, nos Estados Unidos. Abrigo de mais de 2,5 mil obras de arte, entre pinturas, esculturas, tapeçarias, mobiliários, manuscritos, livros raros e objetos decorativos, o museu, que está prestes a completar 110 anos de existência, é considerado um verdadeiro tesouro cultural e artístico. 
Constituído por coleções que reúnem obras clássicas e contemporâneas, o extenso e diversificado acervo não é a única riqueza artística do museu. Suas inúmeras galerias estão espalhadas por três andares de um imponente e requintado palácio do século XV, que brinda os visitantes com uma arquitetura em estilo veneziano, marcada por um ensolarado pátio florido ao redor. Inaugurado em janeiro de 1903, pela mecenas Isabella Stewart Gardner, o espaço passou por uma ampla restauração que, iniciada em 1990, estendeu-se para uma notável ampliação das instalações do museu, entregue no início deste ano. 

 

O edifício passou a contar com uma nova e moderna ala, localizada a 15 m do palácio original, que, nas mãos do arquiteto italiano Renzo Piano, conferiu ares de modernidade e transparência ao tradicional museu. “Optamos por demolir a antiga casa de carruagens, espaço que estava sendo subaproveitado, para dar lugar a um novo pavilhão, onde as obras pudessem ser dispostas e desfrutadas da melhor forma possível”, afirma a diretora do museu, Anne Hawley. “A nova ala transformou-se em uma extraordinária e elegante oficina, um movimentado contraponto à serenidade do edifício histórico. É nesse novo espaço que a proposta e o trabalho do museu irão se concentrar, de modo que o palácio, até então usado para fins aos quais não era adequadamente equipado, possa voltar a proporcionar aos visitantes a experiência que sua fundadora pretendia: a de um confronto pessoal com a arte.”   

 

Toque de mestre

 

O inconfundível traço de Renzo Piano se expressou, mais uma vez, na combinação precisa de aço e vidro, que aqui resulta em uma caixa transparente, de lajes e coberturas finíssimas. Um corredor verde de 15 m conecta o anexo à histórica sede do museu. “A envidraçada extensão abriga somente 185 m² de área expositiva. A maior parte da construção é dedicada a atividades complementares, como o auditório com capacidade para 300 pessoas, os laboratórios de conservação, as salas de aula, a área administrativa e um café”, descreve Piano. As características-chave da nova ala, segundo o arquiteto, residem em uma sala de espetáculos em forma de cubo e em uma galeria de altura regulável, concebida para abrigar exposições especiais. 

 

A mais desafiadora tarefa do premiado arquiteto foi preservar a construção histórica, aliviando a pressão exercida sobre suas estruturas após tantos anos de uso. Com 70 mil m2, o novo pavilhão tem espaço para concertos, exposições, aulas e outras pequenos serviços extras ao visitante. “O desenho da nova ala incorpora vidro e luz natural para a concepção de uma entrada aberta e convidativa, além de prover vistas panorâmicas do edifício histórico e dos jardins”, comenta Piano. “O pavilhão é composto por quatro blocos conectados entre si, folheados por cobre pré-patinado verde e tijolos vermelhos que parecem estar flutuando sobre o transparente primeiro andar”, acrescenta o arquiteto. 

 

Os vidros extra-clear, low iron e low-e da fachada, bem como os vidros duplos e triplos da cobertura retrátil, foram fornecidos pela americana Viracon. No total o projeto recebeu mais de 15 mil m2 de superfície envidraçada. “Os vidros foram instalados a partir de um sistema de captura mecânica empregado nas quatro faces do edifício”, descreve Stefania Canta, responsável pela comunicação do escritório de Renzo Piano, localizado em Gênova, na Itália. A estrutura é de aço, com acabamento em alumínio. “Além do cobertura móvel, as micropersianas e painéis articuláveis são algumas das tecnologias presentes no projeto”, complementa Stefania. 

 

A imponência do hall de entrada é o destaque do projeto do arquiteto, que buscou inseri-lo no contexto contemporâneo a partir da aplicação de soluções sustentáveis, nas quais o vidro exerce papel fundamental, especialmente na captação de luz natural. Ouros exemplos são o reaproveitamento de água e um sistema próprio de aquecimento baseado na transmissão geotérmica de calor, que garantiram a certificação LEED para o anexo do museu.