Toque renovador

Toque renovador

Capa: Toque renovador

Um jogo de contrastes entre luz e sombra, transparência e opacidade, vidro e tijolo, o moderno e o tradicional. Eis o efeito proposto pelos arquitetos do estúdio AR Design para a reestruturação desta residência situada em Winchester, na Inglaterra. A renovação injeta sangue novo à construção original, dando origem a uma linda extensão integralmente de vidro, que não por acaso foi batizada de Glass House, ou Casa de Vidro. “O projeto tira proveito do que há de melhor na estrutura original da casa, ao mesmo tempo em que propõe mudanças para potencializar os benefícios construtivos e o desempenho dos materiais”, comenta o arquiteto Andy Ramus, da equipe que assina o projeto.

 

Concluída em outubro do ano passado, a residência foi contemplada com as principais premiações de arquitetura e design regionais de 2013. A visibilidade do projeto deveu-se, sobretudo, à execução de uma estrutura arrojada, na qual a transparência marca tanto a fachada e a cobertura como detalhes internos – móveis,guarda-corpos, escadas e claraboias. Aliado à proposta arquitetônica inovadora, que reformulou completamente os padrões originais da residência, sem perder de vista seus principais atributos, um aspecto curioso ajudou a dar ainda mais repercussão ao projeto: ela foi erguida sobre um importante sítio arqueológico que remonta à época em que a cidade era a capital do império romano na Inglaterra. Os arquitetos contam que logo nas primeiras escavações para a construção dos alicerces da Glass House, seis corpos foram encontrados. Passado o espanto inicial, polícia e, logo depois, um grupo de arqueólogos foram inspecionar o local e descobriram que os restos mortais pertenciam a ruínas arqueológicas de ramificações do Império Romano na Inglaterra.

 

Segundo os arquitetos, foi a paixão do casal de proprietários pelo vidro o principal fator a nortear o conceito do projeto. “Eles queriam um espaço com transparência em abundância e o mínimo de interferência visual, que permitisse usufruir ao máximo da bucólica paisagem ao redor”. Então, o que originalmente era um abandonado quarto de empregados da antiga casa senhorial, escuro, sombrio e há muitos anos sem uso, transformou-se em uma verdadeira “casa dos sonhos” de seus moradores. “A identidade do projeto é estabelecida por três elementos principais: uma escultural escada de vidro, a cobertura e o fechamento, que juntos constituem a caixa envidraçada”, descreve Ramus.

 

O arquiteto conta que o casal procurou o AR Design por sua reconhecida experiência em lidar com o vidro na arquitetura, além de seu interesse em testar novas soluções e aplicações com o material, explorando sua incomparável capacidade de promover relações ininterruptas entre ambientes internos e externos, entre a natureza e a criação humana. Escondido atrás dos edifícios tradicionais na região, o projeto idealizado pelo AR Design resultou em um elegante exemplar da arquitetura contemporânea em vidro estrutural. “A nova estrutura reinventa a forma como o edifício interage com a luz, eliminando a sensação sombria e claustrofóbica que prevalecia naqueles aposentos e estabelecendo um sugestivo jogo entre claro e escuro, em um ambiente arejado absolutamente inundado por luz”, comentam os autores do projeto. 

 

A proposta central do projeto, dizem eles, foi realizar uma intervenção arquitetônica anexa ao volume original que, marcada pela leveza, pela clareza e pela luminosidade, impactasse de forma positiva na funcionalidade do imóvel. “A transparência das superfícies garante os efeitos de luz e sombra produzidos pela abundante luz solar, estabelecendo um contraste entre um espaço aberto e luminoso de convivência e os recintos mais íntimos da antiga casa”, explica Ramus. O layout da construção pré-existente também recebeu novos ares, por meio de corredores verticais abertos ao longo da residência para unir os diferentes níveis e redirecionar o fluxo da casa, conduzindo os usuários ao novo volume de vidro estrutural. 

 

“A estrutura consiste basicamente em um sistema structural glazing sem recortes, composto por unidades insuladas de vidro low-e Pilkington Optitherm, para garantir isolamento térmico e desempenho energético”, diz o arquiteto. Constituído por camadas de 6, 16 e 12 mm, o envidraçamento estrutural oferece fator U de 1.1W/m2k e foi fornecido e instalado pela empresa inglesa Glass Space. Unidos por silicone estrutural, os painéis de vidro foram erguidos por sistemas de ventosas para em seguida serem aplicados às colunas e vigas previamente instaladas. Suportes de aço angulares foram usados para fixar o vidro à estrutura da antiga casa.

 

Limpa e livre de interferências estruturais, a extensão de vidro cria um ambiente claro e espaçoso que abriga cozinha, uma sala de jantar e uma de visitas. “À medida que a delicada estrutura se ergue para formar as paredes e a cobertura, define flexíveis espaços internos e externos, permitindo que a luz do sol inunde a casa e seja gradualmente filtrada, criando belos fragmentos de luz e sombra”, descreve Ramus. O posicionamento estratégico da extensa cobertura contribui para que a luz permeie cada um dos andares de forma adequada, de acordo com a hora do dia e as estações do ano.