Equilíbrio, bem-estar, desenvolvimento pessoal e espiritual. De origem indiana, a palavra sânscrita mandala é sinônimo de círculo mágico ou concentração de energia e remete aos benefícios terapêuticos associados a esses símbolos coloridos e geometricamente complexos, compostos por um entrelaçamento de formas quadradas e circulares, mais ou menos simétricas e coligadas a um núcleo central. Vinculadas às mais remotas tradições espirituais de origem indiana, há milênios as mandalas têm exercido fascínio sobre a mente humana, tanto no Oriente como no Ocidente, como símbolo de totalidade, de integração e de harmonia.
Em variadas épocas e culturas, a mandala foi usada não somente como expressão religiosa, mas também científica e, sobretudo, artística. Exemplo contemporâneo e inovador de como tirar proveito máximo dessas figuras que permitem uma combinação infinita de cores e formas, a obra da artista holandesa Suzan Drummen é uma junção de criatividade, paciência, precisão e muita inspiração.
A partir de um profundo mergulho no universo místico e artístico das mandalas e de suas composições, Suzan encontrou sua linguagem na criação de extensas instalações brilhantes sobre o chão, formadas por conjuntos de peças das mais variadas cores, texturas, formatos e tamanhos. Tudo para criar um paradoxo que desse conta de tornar essas figuras ainda mais fascinantes. “Hiperdimensionar as mandalas, compondo-as com diferentes elementos, foi uma forma de promover um diálogo entre ordem e desordem, entre atração e repulsão”, comenta a artista. “A distância, as formas parecem claras e harmônicas, mas, ao contemplá-las mais de perto, os olhos se confundem e ficam desorientados pelos muitos detalhes e estímulos visuais.”
As peças usadas nas composições combinam propriedades como brilho, cor, reflexo e luminosidade e vão de espelhos e cristais a metais cromados, vidros ópticos (os mesmos usados para produzir lentes), pequenas miçangas e até pedras preciosas. “Uso uma diversidade muito grande de materiais. O vidro é o principal deles, mas também gosto muito de explorar os metais e o papel”, comenta a artista. Vidros e espelhos, entretanto, invariavelmente assumem papel determinante nas obras. “O vidro tem atributos fascinantes. É um material com qualidades incomparáveis, capazes de produzir efeitos únicos de brilho e reflexo. Uso vidros e espelhos para despertar um encantamento no observador, hipnotizálo e fazer com que olhe para minha obra e esqueça por alguns minutos de todo o resto.”
Em última instância, brincar com a combinação desses elementos é justamente o que pretende a arte de Suzan. “Um olhar aproximado sobre as obras permite
identificar uma infinidade de peças, de constituição diversa e construídas de maneiras diferentes. Algumas são muito delicadas e caras, mas outras são simples
bolas natalinas e tiras de plástico coloridas, compradas em lojinhas de bugigangas”, comenta ela. “Eu brinco com essas combinações o tempo todo.”
A montagem é absolutamente manual. Cada peça é meticulosamente posicionada, uma a uma, em um processo que exige muita atenção e paciência. Até que a mágica acontece e, no lugar de um amontoado de pequenas partes, o que se vê sobre o piso são enormes caleidoscópios de cristal coloridos, refletindo cores e interagindo uns com os outros de forma impressionantemente simétrica e geométrica.
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A primeira experiência de Suzan com o vidro veio no início da carreira, quando produzia instalações em janelas de edifícios públicos. “Reuni uma grande quantidade de vidro, que ficou por um tempo em meu ateliê. Um dia olhei para todo aquele material e decidi fazer alguma coisa com ele. Na galeria de arte em que estava expondo minhas pinturas na época havia um espaço vazio. Olhei para aquele chão e imediatamente veio a ideia de montar algo ali com os pedaços de vidro”, conta a artista. Do chão, as instalações acabaram se espalhando pelas paredes e até pelo teto.
Segundo a artista, o maior desafio de seu trabalho é encontrar o ponto de equilíbrio entre decoração e significado artístico. “O que eu busco com minha arte é confundir o espectador. Quero que ele se questione a respeito do que foi produzido, e que nunca tenha respostas fáceis”, comenta Suzan. “Observar uma obra de arte é um processo complexo, que exige reflexão, contemplação e presença. Os efeitos dos vidros e dos espelhos são fundamentais nessa função de capturar a atenção do observador e mantê-la imersa no objeto por algum tempo.”