Caco de cristal

Caco de cristal

Capa: Caco de cristal

No último mês julho, Londres assistiu a um grandioso espetáculo de luz, som e fogos de artifício que iluminou a cidade por mais de uma hora e marcou a inauguração oficial do prédio mais alto da Europa. Milhares de pessoas se aglomeraram pelas ruas ao redor do edifício, próximo à London Bridge, para acompanhar o show de inauguração, no qual a construção foi iluminada por feixes coloridos de luz e mais de 30 holofotes. Construído em três anos com dinheiro do governo do Catar, o “The Shard”, que significa “caco de vidro”, ergue-se a 310 metros do solo e é coberto por 11 mil placas de vidro.

O momento escolhido não poderia ter sido melhor. O novo ícone londrino, que passou a dominar o horizonte da cidade, figurou entre as principais atrações turísticas para os mais de 2 milhões de visitantes que foram à capital britânica para assistir aos Jogos Olímpicos. Com sua silhueta esguia, no topo dos 87 andares do edifício há uma vista panorâmica de 360 graus sobre a capital britânica. “É o nosso Empire State Building”, diz Irvine Sellar, presidente da Sellar Property, responsável pelo projeto.
Assinado pelo arquiteto italiano Renzo Piano, o Shard está localizado do lado sul do Tâmisa, cujas margens foram submetidas a projetos de renovação em todas as direções. Piano espera que o arranha-céu seja objeto de estima dos londrinos. “Para mim, o importante é se o edifício vai ser amado ou não por Londres. Os arranha-céus têm de dar mais à cidade do que aquilo que recebem dela”, diz o arquiteto, que começou a conceber a torre num guardanapo, em um restaurante em Berlim, há 12 anos. A torre, que reflete o céu de Londres no seu exterior de vidro, começou a ser construída em 2009 e levantou controvérsias, acabando por envolver a UNESCO. Os defensores do patrimônio arquitetônico da cidade alegam que o novo edifício está mal localizado, pois prejudica a vista da Catedral de Saint Paul e do Parlamento.

Além de um hotel de cinco estrelas, o edifício terá restaurantes de luxo e 600 mil metros quadrados de escritórios e lojas. Cacos proeminentes também chamado de London Brigde Tower, o The Shard teve suas formas marcadas por sua proeminência no horizonte de Londres. “Ao contrário de outras cidades, como Nova York ou Hong Kong, o Shard não faz parte de um agrupamento de edifícios altos já existentes. Algumas referências adotadas foram os mastros dos navios ancorados nas proximidades da Piscina de Londres e as pinturas de Monet sobre as Casas do Parlamento”, afirma Piano.

A ideia do formato alongado e piramidal do edifício veio já na primeira reunião com a Sellar, tendo depois evoluído para uma torre de oito faces envidraçadas e inclinadas que, sem se tocar, definem a característica visual da torre. “O nome surgiu na sequência, em uma coletiva de imprensa em que comparei o projeto a um caco de cristal”, lembra Piano. As 11 mil placas de vidro extra clear foram fabricadas pela Pilkington (Optiwhite) e processadas pela Interpane, uma das maiores beneficiadoras da Europa. “Edifícios muito altos normalmente são opacos e misteriosos. Neste caso, quis uma fachada muito transparente, para que todos pudessem ver as atividades no interior do prédio”, revela o arquiteto. “E, por serem inclinadas, as faces refletem o céu. O Shard é uma expressão do clima instável londrino, brincando com as nuvens e flertando com a luz.”

A instalação ficou a cargo da Scheldebouw, especializada em sistemas interativos de fachada modular, estruturas e projetos complexos de envidraçamento. Segundo explica David Healy, diretor de projetos da Arup, empresa responsável pela engenharia do edifício, o sistema de envidraçamento é composto por triplas unidades de vidro. De dentro para fora, a fachada tem uma camada de vidros duplos de controle solar com baixo teor de ferro por toda parte, equipados com sistema de persianas mecanizadas na cavidade da composição para sombreamento. “Essa camada é seguida por uma folha única de vidro na superfície externa”, afirma o engenheiro. Por se tratar de um sistema de fachada cortina, a instalação foi realizada em painéis modulares, cada um com 1,5 m de largura por 3,5 m de altura.

Na avaliação do diretor, o vidro em si foi a maior inovação tecnológica do edifício. “Sendo extra clear, ele proporciona uma claridade fantástica e reduz consideravelmente a necessidade de iluminação elétrica”, afirma. “O envidraçamento também favorece a redução do aquecimento solar no ambiente, o que por sua vez reduz a carga de arrefecimento e a dependência de sistemas de ar condicionado. Já durante o inverno, o mesmo vidro contribui para conservar o calor interno.”

                                                        

                                                                                                 Caco de Vidro

                                                         

                                                                                           Tabela comparativa

                                                         

                                                                                 Transporte vertical de vidros

 

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