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Arquitetura e Vidro

Vidro e aço

Casa de campo no interior paulista combina transparência e leveza estrutural para dialogar com o entorno

26/07/1960

Com pé direito duplo, de 6 m de altura, o pavilhão transparente que forma o volume principal abriga a sala de estar, composta por hall, sala, rampa e varanda

Não é de hoje que a construção no Brasil mostra reconhecer no aço uma opção flexível e eficiente não apenas em indústrias, galpões e edifícios comerciais, mas também em projetos de uso residencial. As vantagens do material incluem redução do uso de madeira na obra e do desperdício de recursos naturais, como água e energia. Mais leves, as estruturas em aço podem reduzir em até 30% o custo das fundações e ainda tornar viável o uso de solos com baixa capacidade de carga. “Aço é sinônimo de construção industrializada, aliando produtividade, agilidade e baixo impacto ambiental”, afirma a engenheira Catia Mac Cord, gerente executiva do Centro Brasileiro da Construção em Aço – CBCA. 

 

Em combinação com o vidro, o aço permite aliar benefícios como leveza, transparência e agilidade construtiva, conferindo às fachadas um visual limpo e arrojado. Entre as residências que se destacam na arquitetura nacional por recorrer a esse versátil casamento de materiais está a Casa de Vidro, projeto situado em Bragança Paulista, no interior de São Paulo, assinado pelo escritório Reinach Mendonça Arquitetos Associados. Por meio de amplas aberturas de vidro sustentadas por estruturas de aço, a casa estabelece um rico dialogo visual com a paisagem. “A transparência foi motivada, sobretudo, pelo contato com a natureza e com a área de lazer, aspecto fundamental numa casa de campo”, afirma o arquiteto Henrique Reinach.

 

Com eixo de implantação no sentido norte-sul, o projeto concentra todos os esforços construtivos no sentido de privilegiar a vista. Assim, a casa é basicamente composta por dois blocos bem definidos, que se diferenciam pela estrutura, uso e tipo de fechamento. Com pé direito duplo, de 6 m de altura, o  pavilhão transparente que forma o volume principal abriga a sala de estar, composta por hall, sala, rampa e varanda. Já as salas de jantar e televisão, área de serviço e área íntima estão agrupadas em um volume fechado, de concreto armado e com aberturas convencionais. 

 

Implantada em um terreno de 4 mil m2, a obra apresenta um desenho simples, sóbrio e inteligente, evocando a contemplação e o contato com a natureza tanto do lado de dentro como de fora. Embora divididos, os dois volumes se unem graças à planta em L da área em alvenaria, que circunda duas das quatro laterais do pavilhão envidraçado. “Onde eram necessários vãos maiores, adotamos estrutura metálica; no restante, utilizamos estrutura convencional de concreto armado e fechamentos em alvenaria”, relata Reinach. “Tanto  do interior do bloco transparente como da área da varanda que o margeia, a casa é um convite à observação”, diz Reinach. “O vidro é o material central e predominante, por meio do qual a linguagem arquitetônica se pauta, priorizando aspectos como a forma, a luz e o conforto. Um controle adequado dos cheios e vazios resulta no bom aproveitamento da luz do sol, bem como no correto controle de temperatura.”

 

Sobrepondo-se à superfície da caixa de vidro, uma tampa metálica parece estar flutuando sobre a casa. Formada por telhas de aço isotérmicas do tipo sanduíche, ela chega a invadir parcialmente a estrutura de concreto. O recurso foi adotado para garantir maior conforto térmico, já que o volume transparente tem sua maior fachada voltada para o nascente e recebe alto grau de incidência solar. Além das telhas e beirais, o bloco envidraçado é estrategicamente protegido por brises de alumínio. “Internamente, o volume de vidro conta com um forro de madeira e, na interface entre os dois blocos, há uma pequena abertura, que deixa entrar luz no vão entre a alvenaria e o metal”, descreve o arquiteto. 

 

Com 440 m2 de área útil, a construção mista ganhou, em 2005, o prêmio do Instituto dos Arquitetos do Brasil – São Paulo de melhor obra construída e virou referência da atual produção arquitetônica brasileira. Projetada pela Benedictis Engenharia, a fachada de vidro recebeu chapas translúcidas de 10mm, com folhas retangulares estruturadas por perfis de aço tubulares com medidas de 5x15cm. O projeto empregou aproximadamente 120 m² de vidro no total. Os fechamentos com caixilhos de alumínio e vidro foram executados pela Serralheria Camillo.

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