Subindo a serra

Subindo a serra

Capa: Subindo a serra

“Eu quero uma casa no campo, onde eu possa ficar do tamanho da paz.” Quem nunca se identificou com os versos da bela canção de Zé Rodrix e Tavito, imortalizada na voz de Elis Regina?  Desde os tempos mais remotos, a romantização de paisagens e elementos rurais pontua a história da literatura, da arte e das civilizações. No caso do arquiteto Carlos Verna, a atração pelo bucólico aliou-se ao apego sentimental com o espaço para inspirá-lo a literalmente transportar o galpão de seu escritório, localizado na Vila Romana, zona oeste de São Paulo, para cidade serrana de Gonçalves, Minas Gerais. “Foi uma aventura subir as montanhas transportando uma casa. O esforço foi grande, mas valeu a pena. O galpão agora tem vista privilegiada”, comemora o arquiteto, que usa o refúgio aos finais de semana.

 

A ideia surgiu depois de uma oferta irrecusável de uma construtora para que Verna vendesse o imóvel. Como a demolição da casa ficou por sua conta, o arquiteto decidiu preservar o que lhe interessava. “Eu tinha uma relação sentimental com aquele balcão, por isso quis conservar dali peças marcantes, que me davam sensação de bem-estar”, conta Verna, que levou consigo duas portas do tipo guilhotina de metal, a estrutura metálica do telhado e todos os fechamentos de vidro.

 

Os 70 m2 de vidros planos

Os 70 m2 de vidros planos incolores foram aplicados nas faces leste e norte da casa, em caixilhos de madeira e de aço

 

As peças foram transferidas e o galpão remontado, no tamanho original, em um lote comprado por Verna em sociedade com amigos que tem 50% de sua área preservada. Junto à parte antiga, fechada em vidro, o arquiteto construiu um bloco de alvenaria para abrigar quarto e banheiro. Sem divisórias, o que estabelece a divisão dos ambientes e ajuda a definir a função dos espaços são os diferentes tipos de piso, além dos pilares de concreto que, apoiados em alicerces do tipo broca combinados com sapatas corridas, sustentam a construção.

 

Voltada para o norte, a fachada mais comprida é formada por esquadrias de madeira de muiracatiara e grandes painéis de vidro, responsáveis pela abundância de luz natural. “A valorização dos espaços interno e externo, a partir da integração da casa à forte presença da paisagem, é um dos grandes diferenciais do projeto.”, ressalta o arquiteto. “O principal intuito foi trazer a natureza para dentro da casa. O grande pano de vidro esta perfeitamente posicionado de maneira que o sol não entre no verão, mas somente no inverno.”

 

Aplicados em caixilhos de madeira e de aço, nas faces leste e norte da casa, os 70 m2 de vidros planos incolores, de 8mm, foram fornecidos pela Vidraçaria Gonçalves, a única da cidade. Para evitar a entrada de vento frio, painéis e portas de ripas de pínus garantem um fechamento hermético.