Pisando no vazio

Pisando no vazio

Capa: Pisando no vazio

 

Muito além dos benefícios funcionais e estéticos que comumente agregam aos projetos, o vidro, quando aplicado em pisos, permite explorar um diferencial jamais proporcionado por qualquer outro elemento construtivo: a sensação de “pisar no vazio”. Capaz de propiciar vistas vertiginosas sob ângulos inimagináveis, o material tem causado muito frio na barriga em atrações turísticas nas alturas, em passarelas e pisos transparentes ao redor do mundo. “A tecnologia da indústria vidreira tem propiciado aplicações cada vez mais complexas e inovadoras. A demanda pela aplicação de vidro nesse tipo de obra cresceu graças aos maiores investimentos em decoração e ao aumento da confiança na resistência do vidro”, afirma o diretor da T2G Maurício Margaritelli.

Por meio de interlayers estruturais e de múltiplas camadas de laminados, as tecnologias atuais permitem transformaro vidro em um material ultrarresistente. A proposta de oferecer vistas inusitadas de belas paisagens levou à construção da passarela do Grand Canion, onde os vidros ultraclaros laminados com SentryGlas exploram magistralmente a sensação de caminhar sobre o ar. Na mesma linha foram concebidos a Glacier Skywalk, no Canadá, e o Step into the Void, na Suíça. Outros exemplos são o Skydeck da Wills Tower, uma caixa de vidro suspensa para fora de um arranha-céu em Chicago, e a Yuanduan Glass Skywalk, inaugurada na China em abril deste ano e capaz de comportar até 200 corajosos visitantes por vez. “A redução de custo dos vidros laminados e multilaminados nos últimos anos, associada ao maior conhecimento sobre as diferentes possibilidades de aplicação e composições de vidro de segurança por parte dos projetistas, inspira os arquitetos a conceber projetos cada vez mais ousados”, comenta a arquiteta Rebeca Andrade, da PKO do Brasil.

 

Mas não é somente em atrações turísticas e projetos de grande porte que o piso de vidro aparece como protagonista. Alinhada a tendências arquitetônicas minimalistas e à integração entre ambientes, a aplicação vem ganhando espaço também na decoração, onde texturas como a dos acidados e impressos conferem nobreza aos ambientes. “A superfície mais áspera torna-se antiderrapante, fazendo dos impressos uma excelente opção para este tipo de aplicação”, afirma Marcela Calabre, responsável pelo marketing da Saint-Gobain Glass. Em muitos casos, os vidros são empregados no piso para garantir ampla penetração de luz em profundidade. “Uma aplicação estrategicamente localizada elimina um dos maiores riscos de um projeto verticalizado: a falta de iluminação nos níveis inferiores”, afirma a arquiteta Yves Schlesser, do atelier Metaform, de Luxemburgo. 

Na instalação, as placas podem tanto estar apoiadas nas bordas como engastadas no piso ou mesmo aparafusadas ou com fixações pontuais em dois ou mais lados da peça. “O dimensionamento envolve cálculos levando em conta a carga uniforme ou distribuída e o número de apoios. Vidros bem especificados suportam o peso de até 10 pessoas por metro quadrado. Em qualquer situação, lembra a arquiteta Rebeca, deve-se calcular a espessura de vidro de acordo com a utilização do piso. “A circulação de pessoas em imóvel residencial é diferente da de um espaço público ou com circulação de veículos, por exemplo. O cálculo é o mesmo que se faz com qualquer outro tipo de piso”, afirma a arquiteta. “Também é possível usar uma película antiderrapante, que aumenta as condições de segurança”.

 

 

 

América vista de cima
The Ledge | Chicago, EUA

 

Instaladas a mais de 400 metros de altura, as plataformas de vidro The Ledge têm como proposta transformar a passagem dos turistas por Chicago em uma experiência de tirar o fôlego. Localizadas no 103o andar do arranha-céu Willis Tower, as quatro caixas transparentes são feitas de placas de vidro ultra-resistentes, cada uma pesando 680 kg. Formando um sanduiche de laminados, as chapas dos “puxadinhos de vidro” são compostas por múltiplas camadas de temperados low-iron, que totalizam uma espessura de 38mm, com capacidade para suportar até cinco toneladas. A ideia dos arquitetos do SOM foi propiciar aos visitantes a sensação de estarem suspensos no ar. O panorama que se apresenta alcança 80 quilômetros em dias claros, o que permite ver nada menos que quatro estados americanos. Em 2014, uma das plataformas sofreu uma ruptura em sua camada mais interna e assustou a família de turistas que visitava a atração.

 

 

História sob os pés
Quadra Petar Zorani? e Praça Šime Budini? Zadar | Croácia

 

Os croatas do escritório Kostren?i?-Krebel são os responsáveis por esta intervenção em um praça localizada no centro de Zadar, antiga cidade romana repleta de patrimônios históricos e arquitetônicos. O piso de vidro, neste caso, foi o artifício encontrado para preservar uma série de importantes artefatos arqueológicos remanescentes do Império Romano. Como um portal para o passado, a superfície transparente transforma a praça em uma espécie de museu a céu aberto, deixando à mostra, a cerca de 1,60 m abaixo do solo, os achados arquitetônicos e históricos situados no centro da praça, integrando-a à vida urbana contemporânea.

 

Geometria espanhola
Arsenal de Cartagena | Cartagena, Espanha

 

Assinado pelo arquiteto espanhol Martín Lejarraga, o projeto de reabilitação das salas de esgrima de um antigo armazém de desarmamento do complexo Arsenal, construção militar da metade do século XVIII, ostenta um extenso piso elevado de vidro como elemento arquitetônico central. O objetivo do projeto foi recuperar alguns aspectos essenciais da antiga sala, como pavimentos originais, estrutura e a geometria do espaço. O vidro foi adotado com o intuito de preservar e manter exposto o piso original, permitindo que se visualizem os antigos sistemas de condução de energia. Instadas em perfis de aço pintados, as chapas de vidros laminados antiderrapantes de segurança têm espessura de 10+10+6mm e dimensões de 120X120cm.