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NORMAS TÉCNICAS

Saiba como o mercado tem se movimentado em prol da melhoria da qualidade das instalações e quais normas estão entrando em vigor, assim como as revisões das regras já vigentes

12/12/2017

O mercado vidreiro anda a todo vapor, especialmente quando o assunto é padronização dos processos e segurança das obras através das normas técnicas. Uma série de normas vem sendo colocadas em pauta nas reuniões de comissões de estudo. Algumas passam por processos de revisão para adequação de alguns requisitos, outras, devido a uma necessidade, estão sendo criadas do zero.

“Na minha opinião, as normas devem ser revistas pelo menos a cada três ou quatro anos, pois as tecnologias estão avançando muito rápido e no caso de produtos que envolvam vidro existem muitas variáveis e entendimentos divergentes, que, por falta de conhecimento de tecnologias e produtos, acabam colocando usuários em riscos desnecessários”, afirma Alexandre Baccari, responsável pela área de Arquitetura da Glass Vetro.

Disseminação do conteúdo

O assunto norma técnica está sendo mais constantemente colocado em pauta hoje, mas, durante muito tempo, a maioria dos profissionais pouco sabia sobre o conteúdo destas normas, muito menos seguiam as regras e orientações, seja por falta de conhecimento, dificuldade de entendimento ou alto custo de acesso aos documentos. Atualmente, o mercado vem se movimentando para sanar estes entraves e disseminar essas importantes informações.

Recentemente, as reuniões das normas técnicas, que sempre estiveram abertas a receber qualquer profissional, passaram a ser transmitidas pela internet, ampliando e facilitando o acesso de quem quiser acompanhar, de qualquer lugar do país. Todos podem participar e dar suas sugestões, expor sua opinião e contribuir para a definição das regras que norteiam o mercado de instalações com vidro e suas categorias adjacentes, como o de esquadrias e alumínio. 
Um outro canal pelo qual o setor tem compartilhado estas informações é o whatsapp. Através de grupos criados para fins específicos, profissionais compartilham conhecimento e tiram dúvidas de forma rápida, além de debateram suas opiniões acerca de diversos assuntos. Um dos grupos que mais tem disseminado informações sobre as normas técnicas é o “De olho nas normas”, criado há cerca de dez meses por Cassio Ghiotti, diretor técnico da I Love Glass, em Jundiaí (SP), Rosita da CB Esquadrias, em Joinville (SC) e Gabriel Rosa. 

No grupo cada item das normas é estudado para que os vidraceiros entendam saber o porquê de utilizar certos produtos em determinadas aplicações e o motivo da restrição de outras, fazendo com que sua análise crítica se torne mais qualificada. “Analisando ponto a ponto de cada item foi ficando claro aquilo que anteriormente parecia um bicho de sete cabeça. Profissionalmente falando, aumentei muito mais a minha análise crítica em dez meses de whatsapp do que em seis anos em uma formação tradicional”, relata Gabriel Rosa, gerente comercial da Luxsol Glass.

As discussões têm ajudado a entender alguns conceitos e na interpretação das normas, consideradas muito técnicas, elaboradas em uma linguagem de difícil entendimento. “A didática confunde até os mais habituados com as questões, algumas normas deixam até os ‘entendedores’ confusos, pois abrem muita brecha para interpretação ou seja fica muito a cargo da interpretação e intuição”, completa Rosa. 

Livre distribuição

Antigamente, muitos não tinham acesso às normas devido aos altos valores cobrados pelas ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Hoje há alternativas mais acessíveis. O Senac disponibiliza para pequenos empreendedores as normas por um preço bem menor. Melhor ainda faz o site Target, que disponibiliza cada norma por menos de R$25. Porém, é possível ter acesso às normas gratuitamente. 

Ao contrário do que se propagou, as normas podem ser transferidas de um usuário ao outro sem a pena de crime por direitos autorais. Em 2014, foi decidido, em instância Federal, que as normas técnicas organizadas e distribuídas pela ABNT não estão cobertas pela lei de direito autoral, pois são escritas por voluntários de diversas empresas. 

Saiba quais são as principais mudanças das normas em processo de revisão

Norma de Guarda-corpo

A revisão da norma ABNT NBR 14.718 - Guarda-corpos para Edificações, revista pela última vez em 2008, passou por uma série de ajustes e está em processo final. No último dia 11 de outubro foi feita uma reunião para a leitura final e aprovação da revisão do texto base, que ainda será encaminhado à revisão ortográfica, editoração e, posteriormente, publicado para consulta nacional, devendo entrar em vigor no próximo ano.   

“As mudanças foram necessárias porque a norma de 2008 não era clara quanto à utilização de vidros laminados e, principalmente nos dias de hoje, a utilização de guarda-corpos com vidro autoportante (apenas um engaste), dava margens a interpretações divergentes e muitos casos errôneos, vindo a causar riscos aos usuários. Agora a norma foi melhorada e será muito clara para evitar entendimentos divergentes”, conclui Baccari.

Uma das principais alterações é o aumento da altura mínima para 1.100 mm e a obrigatoriedade dos guarda-corpos compostos por qualquer tipo de vidro passarem nos testes, principalmente, horizontal e de impacto. O novo texto também deixou mais clara e ampla a abrangência de tipos e locais de aplicação dos guarda-corpos, levando em considerações outras normas, como a dos ventos, para casos específicos.  

Norma de Vidro Laminado

No dia 10 de outubro foi realizada a 9ª reunião da revisão da norma de vidro laminado e a expectativa é que a mesma entre em consulta pública até o início de 2018. “Não é possível ainda definir os pontos de mudança com clareza. Sua revisão foi necessária porque sua última atualização foi em 2001, e com as novas tecnologias e utilização de vidros, existem muitas dúvidas onde realmente podemos aplicar o vidro laminado e qual a forma ideal para sua aplicação”, justifica Alexandre Baccari.

Confira as novas normas e o que elas vão determinar

Norma de esquadrias

A criação da Norma de Esquadrias envolve muitos pontos e detalhes para garantir que a indústria forneça produtos de qualidade e que atendam às novas necessidades do mercado, associando-a a outras normas. Para tal, foram realizadas diversas reuniões que se iniciaram em 2014. 

Algumas das necessidades apontadas, que ainda precisam ser validadas para finalização da norma, são a apresentação do estudo do texto-base 191 000 01 003 perfis de PVC rígido para a fabricação de janelas e portas e requisitos e métodos de ensaio, finalizado pelo GT 3; e início do estudo dos textos-base 191 000 01 001/7 - Esquadrias para edificações Parte 7 - Esquadrias externas - Condições específicas para fachadas cortina e 191.000.01-001/8 - Esquadrias para edificações  Parte 8 - esquadrias externas - Ensaios e métodos para fachadas em obra (in loco).]

Norma de ferragens para vidro 

Esta é uma das normas mais aguardadas por toda a cadeia do vidro e das ferragens, que tem recebido positivamente a publicação. Até o momento, não há uma norma específica para as ferragens para vidro, o que acaba deixando o setor e o mercado soltos, pois cada fabricante pode produzir sem um controle e cobrança externa, assim como gera uma insegurança jurídica ao não ficar bem claro como cada elo da corrente se responsabiliza pelo todo. 

“Ao haver uma ocorrência de quebra de vidro, de quem é a responsabilidade? O recorte foi feito corretamente na têmpera? A escolha da ferragem foi feita corretamente? A ferragem possuía desempenho adequado? A compra  foi feita de acordo com a especificação? Quem fabricou a ferragem?”, indaga o engenheiro Roney Honda Margutti, coordenador da ABNT/CEE-188 – Comissão de Estudo Especial de Ferragens, que ressalta que sem uma norma técnica que estabeleça parâmetros, critérios e especificações de desempenho, responder a estas perguntas se torna muito difícil. 
O desenvolvimento da norma de ferragens já está em estágio bastante avançado, mas foi um grande desafio construir um documento do zero, pois é a primeira norma brasileira ABNT de Ferragens para Vidro, sendo que as normas internacionais são totalmente diferentes dos produtos nacionais, não servindo de referência. Tanto que sua elaboração tem ocorrido há bastante tempo. 

A Comissão de Estudo Especial de Ferragens ABNT/CEE-188 foi instalada em setembro de 2012 e os trabalhos iniciaram efetivamente em janeiro do ano seguinte. Margutti conta que o texto está praticamente pronto,  porém, no início deste ano de 2017 houve uma revisão da ABNT NBR 7199, norma de vidros que contempla aqueles utilizados pelas ferragens, trazendo algumas incompatibilidades com os recortes utilizados pelas principais ferragens, como os kits para boxes. 
Os ajustes já foram feitos e o texto está sendo finalizado. Após a aprovação destes ajustes finais, o texto da norma passará para revisão ortográfica e editoração gráfica junto à ABNT, e será liberado para consulta pública por 90 dias. Sendo assim, a expectativa é que ela seja publicada entre março e julho de 2018. Participam deste processo fabricantes de ferragens, laboratórios de ensaios, fabricantes de vidros, instaladores e vidreiros, consumidores e representantes de entidades de classe e da sociedade.

Uma outra informação relevante é o fato de todos os requisitos especificados na norma terem sidos testados no laboratório, ou seja, quando a norma for publicada já haverá laboratório credenciado para certificar a qualidade das ferragens produzidas e comercializadas no território nacional. 
“Esta norma vem com o intuito de organizar nosso mercado de ferragens que hoje, infelizmente, é muito desorganizado e sem nenhum critério mínimo para qualidade dos produtos. Uma das principais vantagens em relação a esta norma é a especificação de qual tamanho mínimo que cada tipo de dobradiça ou outra ferragem deverá suportar, fazendo com que as empresas possam melhorar seus produtos”, avalia Cirilo Paes, responsável técnico da Glasspeças.
Paes explica que agora toda ferragem deverá ter o nome ou marca de identificação do fabricante, de modo que se possa contatar o produtor. Os mesmos tipos de ferragens fabricados por diferentes fabricantes deverão ter o mesmo código para especificação e comercialização, de modo que toda a cadeia fale a “língua”. Outro item é a definição dos recortes dos vidros. Para cada tipo de ferragem deve ser realizado um recorte específico pela têmpera, de modo que fique claro se o problema que ocorreu é devido ao recorte ou à ferragem. 

Toda ferragem também deverá ter um requisito mínimo de desempenho, que são: resistência dos parafusos, resistência à corrosão e resistência ao uso prolongado sem escorregamento do vidro, assim, uma vez que o recorte foi feito corretamente e a ferragem tenha passado nos testes de laboratório o conjunto deve funcionar adequadamente. Ainda deverão ser especificadas as dimensões e pesos máximos dos vidros que podem ser utilizados, para que possa haver maior segurança na aplicação do produto e identificação dos eventuais desvios.

 

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