Lanterna mágica

Lanterna mágica

Capa: Lanterna mágica

Quem já esteve em Roma sabe. A cidade italiana que foi berço da civilização ocidental é um verdadeiro parque de atrações para os apreciadores da história e da arquitetura e um tesouro inesgotável de referências para os amantes da arte e da cultura. Dona de um patrimônio inigualável, a Cidade Eterna cultiva monumentos, praças e construções de beleza, imponência e sofisticação arquitetônica singulares, eternizadas em livros e filmes. Localizado no coração de todo esse tesouro de riquezas culturais acumulado desde a fundação de Roma, há mais de 2,7 mil anos, o edifício Palazzo Ex Unione Militare figura entre as construções que atraem um número impressionante de visitantes, todos os anos, ao centro histórico da capital italiana.

 

Situado entre as famosas Via Del Corso e ViaTomacelli, desde julho o palácio exibe uma ousada proposta arquitetônica, que, por meio de um voluptuoso jogo de formas, foi capaz de estabelecer uma harmônica integração entre o moderno e o antigo. A façanha é assinada pelo arquiteto Massimiliano Fuksas, mundialmente conhecido por seus projetos arrojados, nos quais o vidro costuma servir a uma geometria complexa, sempre se moldando e assumindo formas incrivelmente orgânicas. Iniciada em 2008, e apelidada de “Lanterna”, a obra é resultado de uma ampla reestruturação projetada pelo Studio Fuksas, sediado em Roma e com filiais em Paris e na cidade chinesa de Shenzhen. Reconhecido mestre da arquitetura mundial, Fuksas abraçou o desafio de redefinir a paisagem do centro histórico de Roma por meio de uma estrutura arquitetônica que, acoplada ao suntuoso e centenário edifício, segue um estilo radicalmente contemporâneo. A ideia, segundo o arquiteto, foi promover um reforço estrutural complexo à construção, ao mesmo tempo em que lhe conferisse funcionalidade. A tarefa de redesenhar o histórico Palazzo ancorou-se na estrutura de vidro e aço que literalmente atravessa os quatro andares do edifício, a partir do térreo, e se projeta em seu topo, como se estivesse “rasgando” o teto. Ali, dá origem a um futurístico terraço panorâmico com vista para o domo da Basílica de Santo Ambrósio e Carlo al Corso. “A Lanterna é o verdadeiro símbolo do projeto, o coração de toda a intervenção”, comenta Fuksas.

 

O arquiteto explica que uma interpretação contemporânea do centro histórico de Roma o levou a projetar uma intervenção que assegurasse o mínimo impacto possível no aspecto externo do edifício, cuja construção original remonta ao final do século XIX, dando ênfase à renovação dos ambientes internos e da cobertura. “A restauração da parte externa centrou-se na recuperação e na valorização das características arquitetônicas originais do prédio”, salienta. Assim, a arquitetura da fachada limitou-se a uma intervenção sutil em seu projeto de iluminação, dando um toque de contemporaneidade à construção, ao mesmo tempo em que o mantém em plena conexão com a cena urbana ao redor. Marco do projeto, a Lanterna é constituída por uma estrutura de formas triangulares de aço e vidro que se ergue por dentro do edifício e comporta as conexões verticais, as salas auxiliares e de serviço, além de parte das plantas. “Estendendo-se até o topo do edifício, o espaço oco criado pela Lanterna permite que ela seja visualizada em sua totalidade ao longo de toda a sua estrutura e a partir de qualquer um dos andares, que estão interligados através dos corredores”, descreve Fuksas. A parte da Lanterna que atua como cobertura, informa o arquiteto, atinge altura máxima de 7,4 m a partir do chão e acomoda um restaurante panorâmico com uma área de mais 300 m². “A partir de outros pontos panorâmicos da cidade é possível observar como a estrutura, ao receber incidência de luz natural, assume o aspecto de um espelho irregular, enquanto à noite ela se acende e realça sua forma, que se assemelha a uma grande lâmpada.” Internamente, o espaço foi projetado com elementos brilhantes e transparentes por toda a parte, segundo Fuksas inspirados em brinquedos de criança. Formas fluídas e esculturais permeiam os ambientes, e espelhos ovais iluminados nas bordas foram instalados para refletir os objetos, cores e luzes ao redor. Uma escada com degraus de vidro, superfícies brilhantes e luzes de led conecta os espaços. Forrado de vidro por todos os lados, um dos andares foi especialmente concebido de modo a abrir vistas para as ruínas arqueológicas da via Tomacelli.

 

Estrutura sofisticada

 

A instalação de toda essa complexa estrutura ficou a cargo da Stahlbau Pichler, empresa com mais de 30 anos de mercado, especializada no planejamento, produção e construção de fachadas curtain wall e estruturas de aço. Com sede na cidade italiana de Bolzano e escritórios em Milão, Stuttgart, Linz e Moscou, a empresa acumula em seu portfólio uma extensa lista de projetos de grande porte que empregam complexos aparatos tecnológicos em suas fachadas. “A arquitetura moderna exige transparência, iluminação e elegância. O vidro é fundamental para agregar todos esses atributos”, comenta o engenheiro Massimo Colombari, coordenador de projetos da Stahlbau Pichler e engenheiro responsável pela Lanterna de Fuksas. Colombari informa que foram dois os tipos de vidro empregados no projeto do Palazzo ex Unione Militare. Para a cobertura, apelidada de “Nuvola” (nuvem), foram empregados vidros duplos insulados. “Trata-se de uma composição com vidros seletivos de alta performance, da linha SunGuard SN 50/25, fabricados pela Guardian”, diz o engenheiro.

 

“Ao todo, foram usadas cerca de mil peças triangulares desse vidro, cada uma com uma medida diferente.” Já as estruturas internas receberam vidros laminados simples, e neste caso a escolha recaiu sobre o extraclear Ultra White, também da Guardian, com baixos teores de ferro em sua composição, de modo a oferecer qualidade ótica superior e maior transparência. Para a instalação dos vidros, a tecnologia empregada foi especialmente desenvolvida de modo que o projeto se adaptasse a todas as diferentes direções às quais o vidro se dirige, bem como suas estruturas de fixação. O sistema aplicado, explica Colombari, consiste em uma série de pontos de fixação aplicados na camada interna das unidades de vidros duplos. “Esses elementos são então escondidos pelas frestas de silicone estrutural aplicado entre as unidades para fixar as peças”, diz ele. A grande inovação tecnológica do projeto, afirma Colombari, resiste nesse sofisticado sistema de fixação do vidro. Além disso, toda a abordagem da engenharia estrutural em si configura-se como não convencional. “Isso porque a estrutura é estabelecida a partir das formas que vai assumir e não pelas seções dos perfis. Mas não podemos considerar esse conceito exatamente uma inovação, pois ele é a base de toda a arquitetura romana”, observa. No total, foram empregados mais de 2 mil m² de vidros em formato triangular, todos com diferentes medidas e características únicas.