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Arquitetura e Vidro

Estímulo sensorial

Museu do Chocolate explora extensas superfícies de vidro vermelho para despertar o apetite de seus visitantes

27/04/1952

Além de imprimirem uma forte marca no entorno, as torres e passarelas envidraçadas resolveram funcionalmente os fluxos conflitantes entre produção e visitação

De dentro para fora, de fora para dentro. Não importando a posição do observador, de onde se olhe a sensação visual é dominada pelo vermelho. O efeito é resultado da proposta do escritório Metro Arquitetos para a remodelagem do edifício do Museu do Chocolate, localizado na fábrica da Nestlé em Caçapava, a 109 km de São Paulo. Fechadas por vidros vermelhos em todas as suas faces, duas torres metálicas são unidas por duas passarelas para formar os volumes principais da edificação. “Com volumetria de triângulos irregulares, elas assumem a função de entrada, saída e área de circulação de visitantes, no caminho que percorrem para o museu”, descreve arquiteto Gustavo Cedroni, um dos sócios do Metro Arquitetos, ao lado de Anna Ferrari e Martin Corullon.

 

Com estrutura de aço e fechamento de vidro laminado e película vermelha, as torres e passarelas metálicas são parte da readequação da fábrica da Nestlé e das novas instalações do Museu do Chocolate, o Chocolover, e fazem do edifício uma nova referência na região. Os desenhos triangulares vermelhos chamam a atenção dos que passam pela rodovia Presidente Dutra na altura da cidade, especialmente durante a noite, quando estão iluminados com lâmpadas de LED. ”A intenção ao projetar as estruturas de visitação da fábrica da Nestlé foi a de marcar a paisagem genérica da rodovia, revelando a presença do espaço de visitação”, afirma Cedroni.

 

Construído na década de 60, o edifício antigo original foi planejado para receber público para um tour de visitação pelas diversas etapas do processo de fabricação dos chocolates da Nestlé. A reformulação do espaço do museu, que estava obsoleto, foi o propósito central do projeto. “O cliente queria um museu interativo, com novas mídias e recursos cenográficos”, diz Cedroni.

 

Ao detectarem problemas no fluxo e na circulação das pessoas, os arquitetos do Metro propuseram implantar duas torres externas ao edifício e duas passarelas que funcionassem como circulação exclusiva para o público. “Além de imprimirem uma forte marca no entorno, elas resolveram funcionalmente os fluxos conflitantes entre produção e visitação”, ressalta o arquiteto. “A geometria estrutural e os materiais usados foram projetados para provocar uma experiência sensorial e perceptiva e contribuir para a apreensão das informações sobre a história e produção do chocolate distribuídas ao longo do percurso.” Foram utilizados vidros laminados de 10 mm [5+5], com película protetora PVB + anti infravermelho na cor vermelha.

 

A solução se transformou na principal atração do edifício, pois, além de cumprir a função de circulação, causa grande impacto visual. “O vermelho carrega intenso apelo sensorial e desperta o apetite. Ou seja, é ideal para uma fábrica de chocolate”, comenta Cedroni.

 

Geometria complexa

 
A estrutura metálica das torres e passarelas é composta por perfis tubulares de 100 mm de diâmetro, com variações na espessura das paredes internas. Incorporada à fachada do edifício, a passarela maior está voltada para a via Dutra. Com 100 metros de extensão, fica a 4,80 metros do solo e possui fundação própria, ou seja, está justaposta à construção original. Finaliza em uma torre com 20 metros de altura, que abriga elevador e escada.
A passarela tem fechamento de vidro laminado temperado com película vermelha e, na face norte, é fechada por uma chapa metálica expandida, que funciona como um brise.

 

Os pisos são feitos de chapa de aço perfurada e contribuem para a ventilação natural e a drenagem. Já as coberturas, informa Cedroni, são em chapa de aço lisa superior e inferior, com EPS no miolo para melhor desempenho termo-acústico. “A estrutura é composta por módulos triangulares de 2.5 metros que se repetem a cada 10 metros. Além de auxiliar estruturalmente no contraventamento, e com isso permitir uma estrutura mais esbelta, essa configuração faz com que os planos de vidro reflitam diferentes figuras da paisagem”, explica o arquiteto. “O uso do vidro permitiu a transparência e os reflexos desse material sobre a geometria não-ortogonal que projetamos. Além disso, garantiu ao visitante uma vista para a rodovia a partir de uma cota privilegiada.”

 

A estrutura de sustentação da passarela é constituída por peças de aço com perfil I, sendo os pilares espaçados a cada 10 metros e vigas formando forquilhas. No trecho sobre a via de circulação de veículos há um vão livre de 27,5 metros. Essa passarela organiza a saída do público. A entrada é acessada por outra passarela com solução idêntica, porém menor - 20 metros de extensão, vão livre de 15 metros e torre de 10 metros de altura.
 

 

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