Esculpindo no vidro

Esculpindo no vidro

Capa: Esculpindo no vidro

Uma das mais remotas modalidades de arte em vidro de que se tem notícia, já na antiga Pérsia a gravura, ou incisão, foi uma prática amplamente difundida. A técnica se espalhou pela Europa a partir de Veneza e de lá para cá vem sendo constantemente aperfeiçoada por todo o mundo. Em Haleworth, uma pequena cidade da Inglaterra, a incisão no vidro, ou glass engraving, ganha expressão e múltiplas possibilidades pelas mãos da artista vidreira Lesley Pyke, que há 30 anos se dedica à criação de desenhos para gravação em superfícies de vidro e de cristal.

 

No geral, todo processo de corte, incisão, sulco ou entalhe feito em material duro, seja metal, madeira, pedra, osso ou vidro, pode ser chamado de gravura. “Em sentido estrito, a gravura é a arte de transformar a superfície plana de um material rígido em um condutor de imagem, ou seja, em uma matriz criada para reprodução da imagem certo número de vezes”, explica Lesley. “Já a incisão consiste no uso de técnicas variadas para decorar individualmente as peças, como vasos, garrafas etc.” 

 

A paixão de Lesley pela arte de gravar imagens sobre o vidro manifestou-se pela primeira vez em 1983, quando viu um copo decorado por incisão exposto em uma loja de presentes. “Nunca tinha ouvido falar dessa técnica e fiquei muito entusiasmada. No mesmo instante visualizei o projeto completo do meu futuro negócio, a partir das inúmeras possibilidades que eu poderia explorar”, lembra a artista.

 

A partir dali, Lesley iniciou uma longa e ininterrupta jornada de aprendizado e novas descobertas, pesquisando e buscando conhecimento tanto em livros como em sua própria experiência do método. “Hoje exploro sobretudo as técnicas de jateamento e de incisão com brocas”, revela. “As ferramentas que uso para incisão são as mesmas utilizadas pelos dentistas. Já para o processo de jateamento disponho de um grande gabinete”, acrescenta. 

 

“O princípio básico sempre será: quanto mais áspera a superfície, maior a quantidade de luz refletida, e quanto mais lisa a superfície, maior a quantidade de luz que passa pelo vidro”

 

Múltiplos efeitos 

O processo de incisão, descreve a artista, consiste em tornar a superfície atingida pela ferramenta mais áspera, em variados níveis e profundidades. No caso da broca, a incisão no vidro é feita com diamante, pedra ou borracha, com diferentes graus de abrasividade. “Os efeitos variam de acordo com fatores como velocidade e pressão, procedimentos a seco ou umedecidos, dependendo do que o artesão pretende atingir”, diz. “O princípio básico sempre será: quanto mais áspera a superfície, maior a quantidade de luz refletida, e quanto mais lisa a superfície, maior a quantidade de luz que passa pelo vidro”.

 

Quando muito profunda, acrescenta a artesã, a incisão resulta no que é conhecido como entalhe, técnica capaz de aumentar os efeitos tridimensionais na medida em que reflete a luz em seus sulcos, sendo tanto mais proeminentes as imagens quanto mais profunda a incisão. Já a técnica do jateamento é realizada a partir de máscaras adesivas vazadas. “Coladas na superfície do vidro, essas máscaras formam uma proteção que irá ricochetear os grãos que a atingirem. Toda a parte não protegida sofrerá os efeitos do jateamento”, explica Lesley. Ao regular a velocidade do jato de areia e o ângulo a partir do qual o abrasivo está sendo lançado, é possível criar diferentes tons e espessuras, possibilitando a criação de verdadeiras obras de arte. “Sob certo aspecto, o jateamento pode ser considerado, também, uma técnica de escultura, por oferecer diferentes ângulos e profundidades, com variados efeitos de iluminação”, observa a artista.

 

Uma das técnicas preferidas de Lesley consiste em expor uma película auto-adesiva a raios ultravioleta, com a arte impressa posicionada entre a película e a luz. “Os raios UV endurecem a película nos locais onde não há material impresso, e a área sobre a qual queremos gravar permanece macia, podendo ser removida com spray ou água”, descreve. “Quando seca, a película se torna pegajosa e pode ser grudada na superfície do vidro. Essa técnica permite imprimir uma maior riqueza de detalhes”, finaliza Lesley.