Conhecimento ao alcance de todos

Conhecimento ao alcance de todos

Capa: Conhecimento ao alcance de todos

Sucesso na internet, Gabriel Batista começou a trabalhar aos 13 anos como ajudante em uma empresa de vidros. Interessado no mercado, foi muito além do que lhe era exigido e se apoiou em revistas do setor, entre outras fontes de conteúdo, para obter conhecimento e crescer na carreira. Passou por todas as etapas, atuando de montador a projetista e representante comercial. Em sua trajetória, percebeu a falta de qualificação e informação dos vidraceiros, considerado por ele o elo mais importante da cadeia, pois é este profissional que entrega o serviço ao cliente, e ganhou mais uma função: a de consultor. Com o objetivo de disseminar o que aprendeu em todos os anos de profissão e estudos paralelos, além de seu rico e vasto portfólio com mais de 20 mil fotos que registrou para evitar erros reincidentes, montou, em 2012, o Setor Vidreiro (https://www.setorvidreiro.com.br/), um site de conteúdo e cursos para o segmento, e hoje tem mais de 150 vídeo-aulas no You tube (https://www.youtube.com/user/SetorVidreiro) com milhares de visualizações por todo Brasil. No final do ano passado, avançou mais um passo com a Rádio Vidreira. A Vidro Impresso conversou com Batista, que contou sua história e percepções ao longo de sua caminhada.

 

Imagens do canal

 

Como começou a atuar no mercado vidreiro?

Meu primeiro trabalho fixo já foi com vidro. Eu ainda era menino, tinha 13 anos, e a mãe de um amigo disse que em frente ao seu trabalho tinha uma empresa grande que tinha acabado de mudar para lá. Chegamos eu e meu amigo com o currículo na mão e o dono da empresa, que estava precisando de gente, na hora nos contratou. A empresa era uma distribuidora Blindex, eles atendiam a indústria e também forneciam serviço externo como vidraçaria. Comecei como ajudante, lapidando espelhos e vidros e fazendo carregamento. 

Passei por muitas fases dentro dessa indústria. Mesmo depois que meu amigo saiu, eu permaneci. Sempre fiz serviços internos, mas admirava muito os instaladores, que contavam suas histórias na rua, e passei a querer ser montador. Meu encarregado não deixava eu sair de jeito nenhum devido ao meu porte, mas um dia precisou de gente para carregar peso. O rapaz que me levou no primeiro dia gostou do meu trabalho por eu ser muito prestativo e acabei ficando com serviços externos. Tive acesso a casas grandes e percebi o que o vidro poderia fazer. Sempre gostei muito de ler e nessas casas tinham muitas revistas que ninguém lia. Na hora do almoço eu pegava as revistas, colocava no carro e ficava lendo. As revistas me inspiraram e motivaram ainda mais.

 

Conte como adquiriu conhecimento e prática até deixar de ser ajudante e se tornar um instalador.

O bom ajudante é aquele para quem você não precisa pedir, ele já sabe a ferramenta que deve dar e é bem dinâmico. O cara que trabalhava comigo tinha em paralelo uma vidraçaria. Um dia fomos em uma casa que tinha dois box para instalar e eu pedi para ele se poderia montar um. Ele deixou e depois passei a ser o ajudante fixo dele nas obras da vidraçari. Eu ia sozinho e resolvia os problemas da vidraçaria dele. Nessa mesma época tinha um projetista da empresa que faltava muito e meu patrão levou seu pai, que tinha mais de 70 anos, para trabalhar como projetista na empresa. Ele era um cara excepcional, muito inteligente, mas era idoso e precisava de um rapaz novo para subir escada e em andaime. Também sempre me passava os projetos para conferir e, quando ele ficou doente, assumi como projetista. 

Nessa época não tinha internet assim como hoje, mas meu patrão trazia sempre muito conteúdo, além das revistas. Posso dizer que tive acesso a informações muito privilegiadas. Depois de cinco anos eu sai da empresa e entrei em outra empresa como montador. Fiquei um tempo na montagem com mais um ajudante, logo em seguida, ele comprou um forno e eu passei de montador para forneiro. Mais uma vez, o projetista dessa empresa teve uns problemas e fui fazer projeto. Passei de projetista para encarregado de obra e comecei a gerenciar a mão de obra da galera. 

 

Durante esse processo, o que você mais gostava de fazer? Já tinha um foco para sua carreira?

Eu gostava muito de ser projetista. Nessa época eu já gostava de trabalhar com arquitetos, de inovar. O meu patrão era muito liberal, então toda parte de criação ficava por minha conta. Como gostava muito de criar, eu via nas revistas projetos feitos em São Paulo – a empresa era no interior – e queria de alguma forma aplicar aquilo. Minha meta era ser projetista, mas pelo financeiro eu queria ser representante comercial, pois também já tinha passado por todas as áreas que poderia e não tinha mais para onde ir. Percebi que eu vendia muito fácil o vidro, mas tinha problemas para receber. 

Descobri que por trás dos muitos cheques sem fundo estavam clientes insatisfeitos com o péssimo serviço que estavam recebendo. Foi quando comecei a entender que tinha muita falta de informações no setor – 95% da inadimplência acontecia pela falta de informação do vidraceiro- e passei a ser praticamente um consultor dos vidraceiros, não só vendia o vidro, eu ajudava os caras a realizar o projeto como eles vendiam. Fazia este trabalho de consultoria por conta própria, porque isso não era importante para a empresa. Só eu sabia o sacrifício que era para receber, o que a falta de informação faz na vida da pessoa. E essa parte foi a que me fez mais feliz. Isso aconteceu lá na Baixada Santista, onde formei laços de amizade que tenho até hoje.

 

Então foi aí que descobriu sua vocação e criou o Setor Vidreiro?

Eu comecei a utilizar essas habilidades para ajudar o outro a ser bem-sucedido. Fiz isso durante dois anos e tive que abandonar o pessoal da Baixada Santista. Quando eu voltei para Jacareí, não podia mais dar assessoria para eles, mas mandava por e-mail fotos e informações necessárias e tentava ajudar por aqui. No final de semana eu descia e resolvia. O tempo começou a ficar muito apertado e eu não dava conta, percebia que as informações eram muito parecidas também, foi quando tive a ideia de criar um acervo e disponibilizar aquilo em um blog, onde comecei a colocar muito conteúdo, pois eu tinha um portfólio com mais de 20 mil fotos. Eu sempre fazia um histórico para não ficar errando nas mesmas coisas e fui montando como se fosse um manual, um histórico mesmo de obra com relatórios. Tínhamos muita informação, um acervo muito grande. Procurei uma empresa especializada em sites para poder me ajudar a aumentar o blog e assim surgiu o portal do Setor Vidreiro. Trabalhei dois anos sem ter lucro, vendi um dos meus carros e fui estudando por conta própria, pois só sabia o básico sobre internet. 

Um dia recebi e-mail de um vidraceiro dizendo que estava perdendo muito dinheiro e precisa de ajuda, pois tinha acabado de abrir uma vidraçaria mas contratou um vidraceiro que tinha ido embora. Este vidraceiro só queria trabalhar com materiais simples, produtos básicos, e eu disse a ele que na região onde ele morava tinha muitos vidraceiros e ele precisava trabalhar com produtos diferenciados para não fazer a mesma coisa que as outras empresas já estavam fazendo. Comecei a enviar apostilas a ele e seu caso me incentivou a escrever o livro “Sua vidraçaria está sendo roubada”. Hoje esse livro já tem cerca de 12 mil downloads. 
No início as pessoas perguntavam “Tem algo a mais para oferecer além das matérias?”. Foi quando lançamos um curso gratuito que chamava “Conceitos Fundamentais” no qual falava tudo que o vidraceiro precisava saber, desde as fabricantes até atender o cliente no final. Esse curso era só slide e eu falando, ficamos muito descapitalizados, sem verba para investir. Criamos o “Vidraçaria Lucrativa”, que abordava as questões administrativas, mas o público queria mais. Foi quando reformulamos o curso para “Fundamentos 3.0” e investimos em estrutura, com câmera. Todos os cursos são online e gratuitos, apenas o curso de “Vidraçaria Lucrativa” era pago. Até então eu não lucrava e diminui meu padrão de vida para me dedicar ao Setor Vidreiro. Vendemos muitos cursos de uma vez quando eu percebi que dava para viver disso. Hoje o setor vidreiro cresceu, já tem até funcionários.

 

Atualmente está focado nos cursos?

Hoje a gente está criando muito conteúdo, dos quais 90% são gratuitos. Os vídeos começaram em 2014 e já são cerca de 150 vídeos longos no YouTube. Também estamos bem atuantes no mercado, faço parte das reuniões da CB-37 para ajudar a elaborar as normas técnicas da ABNT, pois percebemos que os vidraceiros não seguem as normas técnicas porque não conhecem ou não veem vantagem comercial. As reuniões me ajudaram a entender melhor o mercado e representar nossa classe, já que há vários interesses envolvidos, uma norma beneficia um e prejudica outro. 

 

E como surgiu a ideia da Rádio Vidreira?

Como percebemos que o vidraceiro não gosta muito de ler, fomos para a alternativa do vídeo.  Aí pensamos em outra mídia para alcançar o cara no dia a dia enquanto ele está trabalhando e veio a ideia de lançar a Rádio Vidreira, que é um Podcast. Com a rádio o cara não precisa sentar e ficar assistindo, ele pode ouvir enquanto trabalha, por exemplo, fazendo a instalação, de forma mais versátil. A Rádio Vidreira abriu a possibilidade de fazer entrevistas e qualquer lugar do Brasil, e como é feita pela internet consegue alcançar muita gente. No vídeo são as minhas ideias, só eu falando, no rádio tem a possibilidade de interagir, tirar as dúvidas e participar enviando um e-mail. A rádio começou no final de 2015, estamos no 10º episódio, e vai ao ar todas as terças-feiras pela manhã. Todos os episódios ficam disponíveis em uma página no site do setor vidreiro. Várias indústrias já participaram, como Cebrace, Guardian, Vivix, UBV e Saint Gobain Glass. A ideia é que essas empresas venham falar com a gente na rádio, sem custo, pois não é patrocinado. Antes da entrevista avisamos os vidraceiros para que possam enviar suas perguntas sobre a empresa.