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Arte em Vidro

A magia dos espelhos

Brilham, iluminam, ampliam espaços, multiplicam o que é belo e disfarçam o que não é

12/11/2013

Com suas linhas alongadas, arcos e detalhes na moldura, o espelho veneziano é um clássico que ainda inspira tendências na decoração. Atualmente, peças originais do Salão de Versalhes são encontradas em museus, palácios e castelos; seu valor artístico

Tradicionalmente associados à estética e amplitude na decoração dos ambientes, os espelhos são cada vez mais explorados por arquitetos e designers interessados nas inúmeras possibilidades artísticas e criativas que os efeitos refletivos conferem aos espaços. “Uso espelhos para dar continuidade e profundidade aos ambientes,
para ampliá-los, neutralizar peças de mobiliário ou disfarçar imperfeições construtivas”, lista a arquiteta Karina Afonso. “Uma parede com espelhos de tamanhos e molduras diferentes cria uma decoração mais despojada“, afirma Karina. Além disso, os espelhos “dão um toque de sofisticação e leveza à decoração,” acrescenta
o arquiteto Luis Sentinger.

 


A sensação de aperto em cômodos pequenos e escuros, como lavabos, pode ser minimizada com o recurso a espelhos. “No teto, eles dão a sensação de pé direito mais alto”, exemplifica Sentinger. “Pensando em sustentabilidade, espelhos colocados em lado oposto à janela colaboram com a iluminação do ambiente, economizando energia”, lembra Karina.

 

 

Chuva de prata


Mas, afinal, o que faz o espelho refletir imagens? O pesquisador do Instituto de Física da USP Claudio Furukawa explica que a refletividade do material vem de uma fina camada de prata ou outro metal aplicada no dorso do vidro. Essa é uma das razões por que bons espelhos custam caro. Segundo os mais remotos registros,
a primeira vez que o homem viu seu reflexo foi na água (o mitológico Narciso que o diga). Por volta do ano 3000 a.C. povos da atual região do Irã passaram a usar areia para polir metais e pedras, dando à sua superfície condições de refletir.

 


“Mas esses espelhos refletiam apenas contornos e formas. As imagens não eram nítidas e o metal oxidava com facilidade”, conta o pesquisador. A prata já era usada para refletir imagens na Roma antiga. Naquela época, porém, o espelho nada mais era que um disco convexo – estanho e bronze eram outros materiais usados. A qualidade da imagem refletida era sofrível e os espelhos eram grandes o bastante apenas para refletir um rosto, mas isso foi o melhor que se teve até a Idade Média.

 


O espelho como o conhecemos apareceu por volta do século 12 e se popularizou quatro séculos mais tarde, quando vidraceiros de Veneza passaram a aplicar uma amálgama de mercúrio e estanho sobre uma lâmina de vidro. “Os espelhos dessa época têm uma fina camada metálica na parte posterior do vidro. Assim, a
imagem ficava nítida, e o metal não oxidava por estar protegido pelo vidro”, diz Furukawa. 

 

O processo de fabricação foi aprimorado em 1835 pelo químico alemão Justus von Liebig – também imortalizado pela invenção do cubo de caldo de carne –, que substituiu a amálgama por prata derretida. Na fabricação do espelho moderno, o vidro recebe várias camadas de diversas substâncias químicas, além de passar por tratamentos térmicos, lavagens e polimentos. Hoje, a camada refletiva de prata geralmente é aplicada na forma de nitrato, um composto líquido desse metal.

 

 

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